(Artigo integral, publicado na Impakt nº 3-2020, pode ser lido aqui)
Se tivéssemos que falar de formação e qualificação profissional há 2 ou 3 anos atrás, diríamos que ela era importantíssima e indispensável no apoio às empresas que procuravam, desesperadamente, profissionais com qualificações que dificilmente encontravam no mercado. Com efeito, num cenário em que as taxas de desemprego atingiam mínimos históricos, as empresas tinham imensas dificuldades em encontrar profissionais disponíveis e com as competências adequadas. Especialmente nas áreas tecnológicas, onde a digitalização assumia um papel preponderante, mas também nas áreas associadas à hotelaria e ao turismo, isto era especialmente evidente.
Se tivéssemos que falar do mesmo tema há 6 ou 7 meses atrás, diríamos praticamente o mesmo. A única diferença era que a situação se tinha agravado e as empresas já não sentiam dificuldades apenas no recrutamento de profissionais com competências específicas e adequadas. As dificuldades em encontrar profissionais disponíveis eram tantas, que os empregadores já não se limitavam a procurar profissionais com as competências mais adequadas às suas necessidades. O importante era tão só encontrar pessoas disponíveis e as empresas de setores como a indústria metalomecânica, a hotelaria, os Shared Services, entre outros, queixavam-se de falta de pessoas e, em muitos casos, viam-se obrigadas a adiar ou mesmo cancelar investimentos.
Foi neste contexto que passamos a ouvir falar de novos conceitos e da necessidade urgente de os pôr em prática: o reskilling e o upskilling passaram a integrar a linguagem dos profissionais que estão ligados à qualificação profissional e, de forma mais ampla, à gestão de Recursos Humanos. Não havendo profissionais disponíveis com as skills adequadas, a solução passava por recorrer a processos de formação profissional que permitissem, de forma rápida, aumentar as qualificações das pessoas que estavam disponíveis, ou mesmo qualificá-las para novas áreas que não tinham nada a ver com aquelas em que possuíam qualificação ou experiência. E estes processos de formação, salvo raras exceções, eram realizados com recurso a
modelos presenciais.
E hoje, depois de uma crise pandémica e económica sem precedentes, de que devemos falar quando o tema é formação e qualificação profissional? Será que tudo o que dizíamos e fazíamos há 6 meses passou a ser obsoleto? Será que podemos abrandar ou desinvestir na formação e qualificação das pessoas? Sejam elas jovens que se preparam para entrar no mercado de trabalho, ou adultos ativos? Para nós as respostas são óbvias! E os artigos e entrevistas que podemos ler nesta edição da Impakt apontam todos no mesmo sentido: podemos discutir sobre os métodos, sobre os conteúdos, mas não podemos ter dúvidas sobre a importância e necessidade de se continuar a investir na qualificação das pessoas. Pelo contrário, diríamos nós, baixar
os braços e recuar na qualificação dos nossos profissionais, teria consequências desastrosas, no médio e longo prazo, para a economia, para as empresas, para a sociedade e, o mais importante, para as pessoas e para os jovens em particular.
É verdade que a realidade de hoje, em muitos aspetos, mudou radicalmente: as exportações, especialmente em alguns setores de atividade, baixaram para valores que ninguém previa há poucos meses, o turismo está praticamente paralisado, muitas empresas tiveram necessidade de despedir trabalhadores ou recorrer a medidas de lay-off, as taxas de desemprego aumentaram (e continuarão a aumentar) para valores
que já não conhecíamos há muitos anos e a grande maioria das empresas já não está preocupada com a dificuldades em contratar pessoas, como acontecia há poucos meses.
Simultaneamente, todos os processos de educação e formação foram abruptamente interrompidos, demonstrando uma enorme vulnerabilidade associada aos modelos de formação presencial. Em poucas semanas, todas as ações passaram a ser realizadas em modelos de ensino e formação à distância e práticas como o e-learning, os webinars, o teletrabalho, as videoconferências, passaram a fazer parte das rotinas de
todos nós. E na DUAL não fomos exceção e seguimos esse mesmo caminho. Apesar de tudo isto, ou tendo em conta tudo isto, como referimos acima, entendemos que a qualificação das pessoas, os processos de reskilling e upskilling, mantêm toda a sua importância e urgência. Se queremos continuar a trabalhar na transição para uma economia verde, se queremos continuar a promover a inovação e a utilização das tecnologias digitais associadas à Indústria 4.0, como a Internet das Coisas, a Inteligência Artificial, o Machine Learning, o Big Data e a Automatização, se queremos continuar a caminhar para uma economia competitiva e sustentável, então a qualificação dos nossos profissionais, atuais e futuros, assume um papel fundamental e crítico, tanto para as empresas, como para os jovens e para a sociedade em geral. E é isso mesmo que temos feito na DUAL, com mais empenho e convicção do que nunca!
Nesse sentido, a DUAL, o serviço de Qualificação Profissional da Câmara de Comércio e Indústria Luso-Alemã continua a investir e a trabalhar, apostando num modelo de formação que segue a filosofia dual, tanto na qualificação inicial de jovens, como na qualificação contínua de adultos, adaptando-o às necessidades específicas de cada contexto.
DUAL
Elísio Silva