O que é que esperam da formação profissional as empresas e os formandos? Qual a resposta mais adequada para valorizar os recursos humanos? E qual o papel do Governo e das instituições que atuam na área da formação neste contexto? A DUAL, o serviço de qualificação profissional da CCILA, que este ano comemora 35 anos de atividade, reuniu um conceituado grupo de especialistas nacionais e internacionais para debater estas questões no âmbito do Seminário “Formação Profissional: Qualidade e Atratividade”, que se realizou há poucos dias em Lisboa.

Logo na sessão de abertura, com a presença do Presidente do Conselho Diretor da CCILA, Miguel Leichsenring-Franco, Daniela Schlegel, em representação da Embaixada Alemã, Dagmar Pietz, do Ministério da Educação e Investigação Alemão (BMBF), Miguel Cabrita, Secretário de Estado do Emprego, alertou para o perigo da falta de mão-de-obra com uma qualificação adequada, que se reflete no emprego, naturalmente, mas também no investimento, inclusive o que vem do estrangeiro, e no crescimento económico.

Neste contexto, cabe ao Governo dar respostas adequadas para garantir a atratividade da formação para jovens e empresas. Na opinião de Miguel Cabrita, impõe-se uma mudança de mentalidades para que a formação profissional deixe de ser vista como uma segunda opção para quem não consegue aceder ao ensino superior ou para quem não tem aproveitamento escolar. O Governo tem um papel relevante nesta mudança, para a qual são fundamentais uma maior agilidade na implementação de políticas e medidas no setor e uma maior adequação das profissões às reais necessidades das empresas.

O Secretário de Estado apelou ainda ao envolvimento de todos os stakeholders para que haja uma real aproximação das empresas aos jovens e vice-versa, facilitando a integração destes no mercado de trabalho. O modelo dual é um exemplo muito positivo de como esta participação pode funcionar porque apela à participação das empresas, tanto no desenho da formação como na própria formação dos jovens. O responsável governamental terminou a sua intervenção reiterando o interesse e a disponibilidade de colaborar com a Câmara Luso-Alemã, através da DUAL, para um maior desenvolvimento da formação em regime dual em Portugal.

Valorizar soft-skills e formação contínua

O primeiro painel do dia abordou a questão das expetativas das empresas em relação à formação profissional e as suas necessidades no contexto atual. Moderado por Conceição Matos, Diretora do Departamento de Formação Profissional do IEFP, este painel contou com a intervenção de vários responsáveis de recursos humanos e de formação de empresas: António Pinheiro do Vila Vita Parc, Lídia Rodrigues da Janz Contagem e Gestão de Fluídos, João Caxaria Santos da Carclasse, e João Duarte da COTEC Portugal. Para partilhar a visão e a experiência alemãs, esteve presente Ann-Kathrin Frohmüller, da Câmara de Comércio e Indústria de Braunschweig.

As várias intervenções permitiram concluir que, além de valorizarem a formação profissional técnica, as empresas dão um crescente valor às chamadas soft skills, aspetos como a criatividade, o trabalho em equipa, a capacidade de negociação ou a inteligência emocional. Se os conhecimentos técnicos podem ser ensinados num modelo tradicional de formação, as soft skills exigem uma abordagem diferente, para a qual a formação dual pode dar um importante contributo.

A formação contínua destinada aos trabalhadores com larga experiência, e sobretudo de faixas etárias mais elevadas, foi outra questão salientada no âmbito desta discussão. Foi referido que nestes grupos, por vezes a formação é olhada pelos formandos com alguma desconfiança ou não é suficientemente valorizada por ser considerada dispensável. Os responsáveis apresentaram algumas soluções adotadas nas suas empresas, como a criação de academias de formação, a partilha de experiências ou a formação intraempresa, para solucionar o problema.

Razões para escolher a formação profissional

No segundo painel, moderado pelo Diretor da DUAL Elísio Silva, foram analisados as razões e os motivos que levam os jovens a optarem pela formação profissional – e os benefícios que dela retiram para a sua vida futura. Participaram nesta ronda Ana Cláudia Valente, Vogal da ANQEP, Daniel Neff, do BIBB/GOVET, Carla Mouro, Presidente da Fundação da Juventude, Barbara Galla, do sindicato alemão IG Metall, e o ex-formando da DUAL João Batista.

Sendo unânimes sobre a importância da formação profissional na vida dos jovens, os participantes no debate reconheceram também que a orientação vocacional desempenha um papel preponderante quando se pede aos jovens para decidiram muito cedo sobre um tema que irá condicionar toda a sua vida.

Neste contexto, Barbara Galla partilhou a sua experiência pessoal: muito jovem ainda, decidiu que queria ser carpinteira, uma profissão tradicionalmente masculina, o que a obrigou a superar alguns obstáculos e preconceitos. Hoje incentiva os jovens a seguirem a sua vocação, para lá de todos os preconceitos.

Carla Mouro falou sobre o impacto da formação na vida dos jovens de contextos sociais desfavorecidos, para quem a aprendizagem de uma profissão pode ser um fator decisivo para o seu futuro. No entanto, estes jovens apresentam muitas vezes condições muito complicadas, que a formação profissional também tem que ter em conta e procurar uma adequação.

Ana Cláudia Valente fez uma reflexão interessante sobre as várias razões que levam um jovem a optar pela formação profissional, em alternativa ao ensino secundário dito regular.

A encerrar os trabalhos deste Seminário, falou Hans-Joachim Böhmer, Diretor Executivo da Câmara Luso-Alemã, que destacou os principais statements feitos ao longo da manhã. Recordou – e reforçou - a afirmação feita pelo Secretário de Estado Miguel Cabrita, sobre o impacto da formação profissional sobre a competitividade do país e a sua atratividade na captação de investidores estrangeiros.

Hans-Joachim Böhmer lembrou que, à semelhança da Alemanha, Portugal também não dispõe de riquezas em recursos naturais. Ambos os países encontram nas pessoas e naquilo que elas produzem a sua fonte de riqueza. Quanto mais bem qualificadas estas pessoas, maior a competitividade do país e a geração de riqueza.

Mas o Diretor Executivo da CCILA não defende a implementação de um sistema dual em Portugal que seja copiado integralmente de outro país, nomeadamente o alemão. O país deve conhecer as suas opções e adaptar qualquer sistema que escolha à sua realidade específica e às suas necessidades. Em relação ao sistema de formação profissional dual, a Câmara Luso-Alemã está disponível para colaborar com o Governo e as instituições ligadas ao setor para partilhar conhecimentos e procurar soluções.